É possível reduzir 50% das mortes e feridos no trânsito?
Estamos na Segunda Década de Ações pela Segurança no
Trânsito (2021-2030), proposta pela ONU, que tem como meta reduzir em 50% o
número de mortos e feridos no trânsito. No entanto, como país, estamos
falhando, caminhando na contramão dessa meta.
Após um período de queda e estabilidade dos números de
acidentes de trânsito, vemos os números aumentarem nas rodovias e em algumas
das principais capitais do país.
Pelo segundo ano consecutivo, o número de sinistros e mortes
nas rodovias federais cresceu. Em 2024, houve um aumento de 8% no número de
acidentes e feridos e de 9,5% no total de mortes nas de acordo com o Painel CNT
de Acidentes Rodoviários. Em 2023, esses números já tinham o aumento
foi de 5% e 3%, respectivamente.
Em que estamos falhando?
Segundo os dados coletados pelo Painel CNT de Acidentes
Rodoviários, publicado em março deste ano, estamos mais desatentos. A
falta de atenção foi o motivo de 39% dos sinistros e de 23% das mortes nas
rodovias. (Aqui lê-se: reação tardia ou ineficiente do condutor, ausência de
reação do condutor, e entrar na via sem observar outros veículos).
Aliado a uma rotina multitarefas que estimula a falta de
atenção e concentração, ousamos dizer que o esforço pela prevenção de acidentes
de trânsito foi reduzido. Ouvimos falar menos em campanhas ou blitz de
trânsito, por exemplo.
A Agenda de 2030, prevista no Plano Global para Redução de
Acidentes, indica o reconhecimento de que mortes e lesões decorrentes de
sinistros de trânsito estão entre as ameaças mais graves ao desenvolvimento
sustentável dos países. Ou seja, a segurança no trânsito deveria estar
intrinsecamente ligada ao desenvolvimento econômico, social e urbano. Não deveria
ser abordada como uma questão isolada, mas como um componente integrado de
diferentes agendas políticas. Até onde temos conhecimento, são pouquíssimas as
ações neste sentido. E isoladas.
O Plano Global da Década de Ação Pela Segurança no Trânsito
(2021-2030) aponta caminhos para redução de acidentes e mortes no trânsito.
Convoca governos, sociedade civil, comunidade acadêmica, empresas, educadores e
líderes comunitários a se envolver e desenvolver uma abordagem de sistemas
seguros. Um sistema seguro reconhece que o trânsito é um ambiente
complexo e que pessoas, veículos e infraestrutura viária devem interagir de
forma que assegurem um alto nível de segurança para todos.
Resumidamente e de maneira simplificada, algumas das
recomendações do Plano Global são:
- Investimento em infraestrutura viária
- Investir em sistemas de transporte de qualidade,
privilegiando o coletivo em detrimento do individual
- Redução e fiscalização de velocidade nas vias urbanas (a
redução de velocidade ainda é vista como um problema e não como uma solução, e
a fiscalização como punição e não como um incentivo a respeitar os limites de
velocidade)
- Fiscalizar de forma efetiva o cumprimento das normas de
trânsito.
- Tolerância zero ao álcool no volante (a legislação
brasileira já prevê tolerância zero, mas não há fiscalização adequada)
- Educação de trânsito.
Diante de todas essas colocações a conclusão que chegamos é
que sim, seria possível reduzir em 50% o número de feridos e mortos em
acidentes de trânsito. Mas, para isso, precisamos atuar intensamente, unindo
diferentes setores e atores da sociedade em prol de uma causa comum.
No mundo polarizado e individualizado em que vivemos, é
possível que haja união por uma causa em comum?
Plano Global – Década de Ação Pela Segurança no Trânsito
2021-2030: www.who.int/pt/publications/m/item/global-plan-for-the-decade-of-action-for-road-safety-2021-2030