SUS recebe uma vítima de acidente de trânsito a cada dois minutos
Epidemia silenciosa
Os acidentes de trânsito são uma das maiores ameaças à saúde
pública no Brasil. Embora o problema esteja diante dos nossos olhos
diariamente, seus impactos mais profundos ainda passam despercebidos. Em 2024,
apenas os sinistros terrestres resultaram em mais de 227 mil internações hospitalares
pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso equivale a uma vítima de trânsito
recebendo atendimento de emergência a cada dois minutos.
O dado faz parte de um levantamento feito pelas Associações
Brasileiras de Medicina do Tráfego (Abramet) e de Medicina de Emergência
(Abramede).
“O trânsito brasileiro é uma epidemia silenciosa. As
emergências estão lotadas de vítimas de circunstâncias evitáveis, com um custo
humano, social e econômico altíssimo”, afirma Antonio Meira Júnior, presidente
da Abramet.
Camila Lunardi, presidente da Abramede, reforça: “Atuamos
diariamente nas emergências e vemos o peso dessa tragédia nos hospitais. Isso
exige resposta do Estado, da sociedade e de todos os atores do sistema de
mobilidade.”
Uma conta que só aumenta
Nos últimos dez anos, os sinistros de trânsito geraram 1,8
milhão de internações no SUS, com um custo direto de R$ 3,8 bilhões. E isso sem
contar os gastos com reabilitação, procedimentos pós-internação, previdência e
assistência social. Os leitos de UTI seguem cada vez mais pressionados, e os
hospitais enfrentam internações prolongadas.
Para se ter uma ideia do que esses R$ 3,8 bilhões poderiam
representar, seria possível com esse valor:
- Construir
de 32 a 64 hospitais de médio porte
- Implantar
até 35 mil km de ciclovias urbanas
- Duplicar
mais de 500 km de rodovias federais
- Adquirir
mais de 15 mil ambulâncias básicas
- Habilitar
quase 13 mil novos leitos de UTI
“Ver tantos recursos sendo consumidos por tragédias
evitáveis no trânsito é frustrante. Sabemos que esse valor poderia estar sendo
investido em melhorias que beneficiariam todo o sistema de saúde”, destaca
Meira Júnior.
Quem são as principais vítimas?
A maioria das vítimas graves no trânsito brasileiro está
sobre duas rodas. Só em 2024, os motociclistas representaram mais de 60% das
internações. Foram cerca de 150 mil casos – mais que a soma de pedestres,
ciclistas e ocupantes de automóveis.
O perfil predominante das vítimas? Homens jovens. Eles
representam 78% das internações. Os jovens de 20 a 29 anos concentram o maior
número de casos, seguidos pelos adultos entre 30 e 49 anos – juntos, esses três
grupos respondem por mais de 65% das hospitalizações. Ainda assim, o risco está
presente em todas as idades: 15% das internações envolvem menores de 20 anos,
enquanto os idosos, apesar de representarem 9% dos casos, são os mais
vulneráveis à gravidade das lesões.
Uma crise nacional com nuances regionais
O estudo mostra que o problema se agravou em todas as
regiões do país. Entre 2015 e 2024, o número de internações por sinistros de
trânsito cresceu 44%, de 157.602 em 2015 para 227.656 em 2024. A
região Sudeste lidera em números absolutos, com quase 750 mil internações no
período – São Paulo, sozinho, representa mais da metade desse total. Minas
Gerais e Rio de Janeiro também apresentam altos índices.
O Nordeste ocupa a segunda posição, com mais de 500 mil
internações nos últimos dez anos, especialmente na Bahia, Ceará e Piauí. Já no
Sul, houve certa estabilidade, mas ainda com números altos – destaque para
Paraná e Santa Catarina. As regiões Centro-Oeste e Norte apresentaram
crescimento expressivo, com estados como Goiás, Pará e Amapá registrando
aumentos significativos.
O trânsito como reflexo social
Por trás de cada número está uma vida impactada e uma
família abalada.
O estudo deixa claro: os sinistros não são aleatórios nem
inevitáveis. Eles seguem um padrão, vitimam com mais intensidade os mais jovens
e economicamente ativos e representam um custo altíssimo para o país.
A solução exige um esforço coletivo – mais educação, infraestrutura segura, fiscalização eficiente e políticas públicas que priorizem a vida.
Fonte: Abramet (texto adaptado)